*Angela Gheller, diretora de manufatura, logística e agroindústria da TOTVS
Vencidas as etapas da espera pelo desenvolvimento de vacinas seguras e eficazes contra a COVID-19, da negociação para a compra dos imunizantes e da necessária aprovação do seu uso pelas autoridades sanitárias, temos ainda um gigantesco desafio pela frente para vencer essa pandemia: os possíveis gargalos logísticos para a distribuição das vacinas.
A grande questão é: como fazer com que essas vacinas e seus insumos cheguem da China, Índia e outros países ao Instituto Butantan e à Fiocruz/Bio-Manguinhos e, de lá, sejam distribuídos com agilidade, segurança e perfeito estado de conservação para 35 mil unidades de saúde, em mais de 5.500 municípios de um país continental como o Brasil? Essa logística deve seguir um rigoroso protocolo de manuseio, armazenamento, transporte e distribuição, sob pena de perder sua capacidade imunogênica.
Mesmo tratando as vacinas como prioridade na cadeia logística, contando com o esforço das companhias aéreas, por exemplo, a operação esbarra em algumas dificuldades, tais como:
● Descentralização da cadeia de suprimentos: a produção de vacina é um empreendimento multinacional. Em sua composição entram insumos de várias fontes espalhadas pelo mundo, e tudo tem que chegar na hora certa, pois numa pandemia não há tempo a perder. Isso vale para todos os insumos que de alguma forma compõem o combate à doença, como ampolas, seringas, agulhas, álcool, luvas etc.
● Cold Supply Chain: todas as vacinas desenvolvidas até agora, como as das farmacêuticas Pfizer, AstraZeneca, Moderna e Sinovac, precisam ser mantidas em refrigeração e/ou congeladas, em todo percurso da cadeia de distribuição. Essas empresas, em parceria com grandes operadores logísticos como FedEx, DHL e UPS, oferecem centros de armazenamento capazes de atender esse requisito. Mas, ainda há poucos veículos de carga com alta capacidade de refrigeração.
● Infraestrutura: a velocidade na distribuição das vacinas também vai depender, naturalmente, da infraestrutura viária, de energia e de transporte de cada Estado e região. O Brasil possui a quarta maior malha rodoviária do planeta, com mais de 1,7 milhão de km de extensão. Mas, só 12,4% das estradas são asfaltadas. Isso sem contar que muitas localidades da Amazônia são acessíveis somente por barco ou avião.
● Last mile: o que tem se observado é que a logística “macro”, do transporte em massa das doses, geralmente por via aérea, está funcionando bem. Mas os gargalos estão no chamado “last mile”, ou seja, na última etapa da viagem das vacinas até a ponta da cadeia.
É importante dizer ainda que a complexidade de toda essa operação logística tende a crescer exponencialmente à medida que a produção da vacina for ampliada, com a previsão de distribuição de dezenas de milhões de doses nos próximos meses.
E é por essas e outras que o uso intensivo de tecnologia pode se tornar um importante aliado na gestão e controle do transporte, distribuição e aplicação das vacinas em todo o território nacional. Existem plataformas digitais que permitem o planejamento da entrega e rastreamento das cargas, considerando variáveis como janela de entregas, horários de carga e descarga, localização dos postos de saúde e ordem de prioridade. O resultado é uma operação logística muito mais inteligente, eficiente, com redução de custos e tempo de transporte, proporcionando uma maior produtividade.
Qualquer que seja a solução tecnológica adotada pelo Ministério da Saúde e pelos governos estaduais e municipais, o mais importante é que a vacina chegue aos brasileiros de forma segura, rápida e na quantidade necessária. Somente desta forma poderemos preservar a vida e saúde das pessoas, que é o mais importante, e criar as condições necessárias para uma vigorosa retomada da economia brasileira.
Assessoria de Imprensa
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