*Maurício Almeida
Habituado a uma evolução tecnológica e comportamental constante, o mercado automotivo enfrenta agora, possivelmente, o seu maior momento de inflexão. De um lado, a pandemia provocou grandes impactos nas cadeias globais de suprimento de peças, condutores e outros insumos básicos, interrompendo ou prejudicando a produção. De outro, acompanhamos a ascensão dos veículos de propulsão elétrica associada a novos hábitos de mobilidade, com ritmos de adoção variando muito entre os países e regiões do mundo. Desafios gigantescos que demandam mudanças profundas e efetivas para a manutenção da competitividade e até perpetuação dos negócios.
Neste cenário, um dos aspectos de impacto mais promissor, no Brasil e no mundo, é a área de supply chain automotivo, da cadeia de abastecimento à de produção, incluindo também o pós-venda (aftermarket). Até pouco tempo atrás, o foco nessa área estava dirigido à busca por partes e peças de baixo custo, em grandes fornecedores globais, dando pouca atenção ao desenho da supply chain. A pandemia mostrou o enorme risco deste modelo, de forma que boa parte dos fornecedores estão migrando de volta a regiões mais favoráveis do ponto de vista de atendimento e confiabilidade, reconfigurando as cadeias de suprimento. Lembrando sempre que nada é mais custoso do que linhas de produção paradas por falta de componentes.
Paralelo a isso, temos o surgimento de uma nova cadeia de fornecimento mais compacta, mas com maior valor agregado, voltada aos veículos elétricos. Essa nova cadeia tende a ficar mais próxima aos países desenvolvidos – mais adiantados na transição para uma economia de baixo carbono –, somando-se assim mais um elemento para grandes mudanças e na qual a supply chain mantém um papel central.
Então como se readequar para este momento? Uma abordagem que vem mostrando grandes resultados é a terceirização da gestão das operações de supply shain através de um modelo denominado LLP (Lead Logistic Partner), em que um parceiro logístico especializado e com experiência assume a gestão em formato de parceria, e passa a exercer funções de planejamento, gerenciamento e desenvolvimento da operação. Este parceiro orquestra os participantes e operadores deste supply chain, gerindo os recursos disponíveis e se responsabilizando pela qualidade do resultado final, tanto do ponto de vista operacional, como também de eficiência.
Atualmente os desafios são de tamanha proporção que as montadoras e fabricantes de peças precisam de suporte especializado, inclusive para viabilizar investimentos em inovação.
Além da facilidade em contar com um parceiro estratégico e que ao mesmo tempo traz experiência prática operacional – o que permite que o cliente se foque em seu core business –, esse modelo proporciona maior flexibilidade, inovação, agilidade e eficiência. Outro grande benefício certamente é garantir a visão completa da operação – e não de apenas partes dela –, o que habilita captura de sinergias, grandes racionalizações e uma maior resiliência e flexibilidade para enfrentar cenários críticos como o de pandemia.
Infelizmente, ainda há muitos gaps de execução nesta cadeia, ainda que ela tenha sido bastante desenvolvida ao longo dos anos. Há ainda muitos veículos de carga circulando pelas estradas com baixa ocupação pela simples falta de melhores ferramentas para planejamento. Sem contar a grande frequência de uso do modal aéreo para resolver atrasos na cadeia de suprimentos e a visão em silos que acaba por impedir oportunidades de compartilhamento de infraestrutura e redes.
Confira um resumo do passo a passo da implantação deste modelo:
No setor automotivo, de forma geral, identificamos oportunidades de melhoria importantes na malha de transportes, consolidação de volumes, aspectos tarifários, roteamento inteligente e, principalmente, na satisfação dos clientes, o que com certeza está no foco de todos. Nesta metodologia, cruzamos as alavancas e os valores agregados da supply chain, formando uma matriz de atuação como mostra este exemplo a seguir.
Outro aspecto chave é a visibilidade de ponta a ponta, ou seja, ter informação em tempo real de onde estão os veículos, quais e quantas peças estão em cada um deles, e tudo isso comparado à uma programação, gerando alertas de desvio para que a gestão da supply chain seja ativa.
Em outras palavras, o conceito é bem simples e básico, porém as operações em geral ainda estão longe desta condição. Atingir isto significa ter ganhos reais em termos de custos e nível de serviços à medida que a operação amadurece, possibilitando a partir daí a adoção de ferramentas de inteligência de dados.
Logo, a supply chain não é um aspecto secundário dos negócios. Ela é o seu viabilizador e merece total atenção, investimentos e, principalmente, o parceiro certo que ajude a construir os caminhos. Essa mudança de abordagem vem em um momento em que o Brasil, por conta dos reflexos da pandemia, da predominância dos veículos tradicionais, do câmbio favorável à exportação e ao tamanho de mercado, tem tudo para se tornar um novo hub produtivo de peças e insumos, o que pode trazer ainda mais oportunidades a serem exploradas pelo setor.
*Maurício Almeida é Head Setor Automotivo da DHL Supply Chain Brasil
Assessoria de Imprensa
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